Tema: Opinião e Reflexão Crítica
(Os Mártires da Liberdade)
Foram doze os mártires que morreram nas forcas da Praça Nova.
Completaram-se cento e oitenta anos sobre a data em que, nos dias 7 de Maio e 9 de Outubro de 1829, na então chamada Praça Nova, morreram enforcados, às ordens do governo absolutista de D. Miguel, doze cidadãos liberais – a que muito justamente se deu o epíteto de “Mártires da Liberdade”, cuja memória o Porto evoca numa rua com aquele nome; na designação do Campo dos Mártires da Pátria, dada ao antigo Campo do Olival, onde funcionou a Cordoaria Nova; e na Praça da Liberdade onde eles pereceram.
Trata-se, pois, de mais uma efeméride a que o Porto não pôde ficar indiferente e da qual nenhum verdadeiro portuense se pode alhear.
A esses Mártires, que o Porto não pode esquecer e que pagaram com a morte a sua luta pelos nobres ideais do liberalismo, é que esta cidade deve, em grande parte, o poder ostentar no seu brasão a honrosa legenda que o classifica como tendo sido o “Berço da Liberdade”.
E haverá, porventura, alguém que nos tempos que correm já não se lembre desse horrível drama de sangue que teve como protagonistas um punhado de cidadãos, que numa época de terror ousaram gritar contra a opressão exigindo a restauração das liberdades entretanto suprimidas?
Para quem eventualmente não se lembre deste pequeno pedaço de história, aqui vai uma sucinta evocação dos acontecimentos que antecederam as mortes dos Mártires da Liberdade.
Tudo começou quando em Julho de 1828 D. Miguel, o usurpador, anulou a Carta Constitucional em vigor e se fez aclamar rei absoluto.
Os Constitucionais não se deram por vencidos e reagiram.
Foram a Verdemilho, nos arredores de Aveiro, e convenceram um antigo desembargador da Baía e membro das Cortes Constitucionais dissolvidas, Joaquim José de Queirós, avô do autor de “Os Maias”, a encabeçar uma revolução que tinha por objectivo a reposição da legalidade do país.
O resto é sobejamente conhecido: os revoltosos partiram de Aveiro para o Porto onde se formou uma Junta Provisória que não chegou a governar porque o movimento revolucionário fracassou.
Não cabe no estrito espaço de uma crónica falar das causas deste fracasso que foram muitas, mas que se deveram sobretudo à superioridade numérica das tropas miguelistas que apressadamente subiram de Lisboa para sufocar a rebelião nortenha.
As forças liberais tiveram que abandonar o país. Os chefes, alguns, embarcaram num vapor inglês que estava no Douro, o “Belfast” e seguiram para Inglaterra. Por causa desse pormenor a revolução passou à história com a designação de “Belfastada”.
O grosso das tropas recuaram para a Galiza onde tiveram que arrotar com a aspereza das montanhas pedregosas, a chuva e o frio e, como se isso não bastasse, ainda eram enganados pela população local que lhes vendia a preços exorbitantes o alimento de que os refugiados tanto careciam.
Duas personalidades salientaram-se durante o êxodo, pela forma digna e humana com que acompanharam as tropas que se viram forçadas a entrar na Galiza: Joaquim José de Queirós e Bernardo de Sá Nogueira, mais tarde marquês de Sá da Bandeira. Dois homens extraordinários que nunca abandonaram os soldados na sua incursão na Galiza e, depois, no exílio em Inglaterra, nos célebres barracões de Plymouth.
Os que não conseguiram fugir ou não quiseram deixar a sua terra, acabaram por ser presos pelos esbirros miguelistas e alguns deles morreram em forcas levantadas no meio da Praça Nova.
Constava das sentenças que esses homens, cujo crime havia sido o de terem ideias próprias e amarem a liberdade, perderiam todos os direitos, honras e privilégios e que seriam levados pelas ruas da cidade “com baraços e pregão” e depois conduzidos à forca onde seriam enforcados e no fim de tudo isso ser-lhes-iam cortadas as cabeças para serem espetadas num troca a ser levantado no sítio onde fora praticado o delito.
O suplício deu-se a 7 de Maio e 9 de Outubro de 1829. Os condenados saíram do edifício da cadeia da Relação e seguiram a pé e descalços pela Calçada da Natividade (actual Rua dos Clérigos) até à Praça. Envergavam a alva dos condenados à morte, o capuz do suplício e ao redor da cinta a corda com que haviam de ser enforcados.
O cortejo era tétrico. Junto aos condenados iam as tumbas que iriam receber os seus restos mortais. Atrás os frades entoavam o “Miserere” da maneira mais funérea que se possa imaginar.
Duas forcas aguardavam os condenados que, quase desfalecidos, eram arrastados escada acima para o cadafalso onde os aguardava o carrasco.
O macabro espectáculo durou três longas horas. Das janelas dos conventos próximos (Lóios e Congregação de S. Filipe de Nery) os frades brindavam a cada execução com vinho do Porto enquanto davam vivas a D. Miguel e à santa religião…
A Reabilitação dos Mártires da Pátria – Sete anos depois da canibalesca cena dos enforcamentos na Praça Nova, a 7 de Maio de 1836, os cadáveres dos doze Mártires da Liberdade, que haviam sido enterrados no cerro dos enforcados que, por essa altura, se localizava, mais ou menos, onde agora funciona a Urgência do Hospital de Santo António, foram exumados para serem recolhidos num mausoléu que a Santa Casa da Misericórdia recolheu à entrada da sua igreja, na Rua das Flores.
Não foi difícil localizar as sepulturas dos doze Mártires da Liberdade. O coveiro, que os havia enterrado, Joaquim Manuel, ainda estava vivo e localizou facilmente os sítios onde estavam os corpos que, além do mais, não podiam confundir-se com outros porque os corpos que se procuravam não tinham cabeças…
O cortejo que se organizou para o transporte dos despojos até à Rua das Flores foi assim comentado por um jornal da época: “…lá vai o precioso depósito por entre as ruas cobertas de luto… e apinhadas de inumerável multidão que fitava, de olhos turbos de lágrimas, o frio mausoléu onde seriam depositados os restos mortais dos Mártires da Liberdade…”
Em 18 de Junho de 1878 os restos mortais dos Mártires da Pátria foram levados para um novo mausoléu que está no cemitério privativo da Santa Casa da Misericórdia no Prado do Repouso.
? - Tantos são os indivíduos que pagam com a sua própria morte a ousadia de desafiarem governos, ditaduras, prepotências e alguns sem razão aparente, mas porque o seu ideal, a sua política ou maneira de pensar e de ser não se coaduna com ideais e preconceitos considerados opostos.
Cabe-nos pois, procurar meios de conduta para se discutirem e harmonizarem diálogos que nos levem a um entendimento global de paz, evitando que possam repetir-se tragédias semelhantes que, moralmente em nada dignificam o verdadeiro homem.
Certamente que o ser humano vive de incertezas que provocam atitudes e preconceitos que em nada dignificam o “homem”. Neste contexto, saliente-se a exteriorização social no quotidiano e no espaço onde nos movemos, porque, nele sobressaem algumas disparidades nos conceitos étnicos, raciais e xenófobos sempre rodeados de incúria ou chalaça relacionada com a sexualidade.
Nas variadas profissões e até nos meios de comunicação social, existem preconceitos na diferenciação de classes e de sexos que quase sempre, lesam e vitimam mais a classe feminina, embora possamos assumir atitudes pessoais que contrastem tal ambiente dada a protecção auferida nos direitos e garantias da Constituição Portuguesa.
Muito naturalmente, as opiniões divergem e por tal razão admitimos ou fazemos a crítica. É também um dever de qualquer cidadão, contribuir para que sejam superadas as descriminações e abusos sistemáticos de qualquer género.
No texto que apresentei, suponho ter dado uma ideia sobre opinião pública e reflexão crítica, pois, a narrativa procura dar expressão estereotipada às questões que se abordam e notam com alguma naturalidade.
No entanto, vou procurar discernir um pouco melhor o que penso sobre este tema: Normalmente, a nossa vida no rodopio diário, vai gerando e criando opiniões diversas no contexto da sociedade e portanto, cria também variadas reflexões na própria cidadania. Não se pode viver sem que haja um quadro de opiniões e reflexões públicas, sejam elas críticas ou não sobre tudo quanto nos rodeia.
As opiniões diferem muito consoante o local onde vivemos, pois sabemos que os considerados intelectuais e cultos que vivem nos meios urbanos, têm uma visão diferente da dos outros indivíduos e acompanham com certa assiduidade os problemas do país, a política e toda a espécie de notícias internas e externas.
Deste modo e estando quase sempre dentro dos acontecimentos é, mais que concebível que as suas opiniões sejam mais aceitáveis. Todavia, as opiniões públicas nem sempre geram consenso entre as pessoas, razão pela qual nascem discussões mais acesas! Uma opinião não quer dizer uma certeza! É apenas uma ideia sobre qualquer conhecimento ou questão que se aflorou e debateu. Sendo assim, não podemos afiançar ou determinar que a nossa opinião seja a melhor em relação às opiniões dos outros.
É destas diferenças de ideias ou opiniões que surgem as reflexões críticas! Não se trata só de críticas, mas também na justa reflexão que o ser humano tem de preconizar às vezes contra si mesmo!
A reflexão chama-nos à atenção para pensarmos no que dizemos e ajuizar se o nosso procedimento está certo ou não. Assim, como definir crítica e preconceito? Uma coisa é a crítica justa. Outra é a crítica assente em preconceito que é injusta. É injusta porque: o preconceito retira a lucidez, a isenção e a imparcialidade para uma crítica justa; e retira a lucidez, a isenção e a imparcialidade porque o que subjaz ao preconceito é um sentimento de antipatia que não um conhecimento real e sério da pessoa objecto de preconceito.
Donde se conclui que a melhor forma de combater o preconceito é de modo próprio, ou seja por sua iniciativa e não através de outrem ou da influência de outrem conhecer a vida e obra da pessoa objecto de preconceito. Não seria um pouco disto que se verificou, por exemplo, aquando da visita de Bento XVI a Portugal e se verifica quando se criticam os outros?
Antes de criticar ou ao fazê-lo é aconselhável que olhemos para o nosso interior e reconheçamos os nossos erros e não apontar só e sempre as falhas dos outros.
Há na comunicação social, por exemplo, a porta aberta das notícias de toda a espécie, nacionais e internacionais e, ao ouvi-las, pomos a nossa opinião e a nossa reflexão a funcionar e logo perspectivamos ou auguramos os mais variáveis preconceitos à nossa maneira, antevendo um conjunto, por vezes de fracassos, outras, de factos para além da nossa retina oftalmológica.
Normalmente, o ser humano é exímio ou usa a conjectura da censura e do desterro de condenar sempre e sempre as outras pessoas. Pensemos nesta famosa expressão de L. Pascault: “Não julgues sem necessidade e não condenes sem provas”.
(Não julgues sem necessidade: eis a opinião – Não condenes sem provas: eis a reflexão).
A minha e a sua opinião! Qual de nós precisa de mudar? Aquele que muda, possivelmente entra em reflexão. Vejamos: “Uma das pessoas mais ricas do mundo suicidou-se, pouco tempo depois de fechar uma das suas muitas empresas, que não tinha dívidas nem ordenados em atraso. Estranhei, comentei o facto com um homem de 89 anos, e registei a resposta: Devia ser uma pessoa honesta e com vergonha de não poder cumprir algum compromisso assumido”. Este homem não mudou de opinião e se calhar não pensou em reflectir...
Assistimos também às críticas construtivas que são consideradas mais um género de incentivar para que se faça mais e melhor.
Geralmente, as pessoas vão com quem vai e vêm com quem vem! Não é isso que se pretende.
ATVerde