sexta-feira, 4 de novembro de 2011

As Nossas Críticas e Opiniões...

Tema: Opinião e Reflexão Crítica

(Os Mártires da Liberdade)

Foram doze os mártires que morreram nas forcas da Praça Nova.
Completaram-se cento e oitenta anos sobre a data em que, nos dias 7 de Maio e 9 de Outubro de 1829, na então chamada Praça Nova, morreram enforcados, às ordens do governo absolutista de D. Miguel, doze cidadãos liberais – a que muito justamente se deu o epíteto de “Mártires da Liberdade”, cuja memória o Porto evoca numa rua com aquele nome; na designação do Campo dos Mártires da Pátria, dada ao antigo Campo do Olival, onde funcionou a Cordoaria Nova; e na Praça da Liberdade onde eles pereceram.
Trata-se, pois, de mais uma efeméride a que o Porto não pôde ficar indiferente e da qual nenhum verdadeiro portuense se pode alhear.
A esses Mártires, que o Porto não pode esquecer e que pagaram com a morte a sua luta pelos nobres ideais do liberalismo, é que esta cidade deve, em grande parte, o poder ostentar no seu brasão a honrosa legenda que o classifica como tendo sido o “Berço da Liberdade”.
E haverá, porventura, alguém que nos tempos que correm já não se lembre desse horrível drama de sangue que teve como protagonistas um punhado de cidadãos, que numa época de terror ousaram gritar contra a opressão exigindo a restauração das liberdades entretanto suprimidas?
Para quem eventualmente não se lembre deste pequeno pedaço de história, aqui vai uma sucinta evocação dos acontecimentos que antecederam as mortes dos Mártires da Liberdade.
Tudo começou quando em Julho de 1828 D. Miguel, o usurpador, anulou a Carta Constitucional em vigor e se fez aclamar rei absoluto.
Os Constitucionais não se deram por vencidos e reagiram.
Foram a Verdemilho, nos arredores de Aveiro, e convenceram um antigo desembargador da Baía e membro das Cortes Constitucionais dissolvidas, Joaquim José de Queirós, avô do autor de “Os Maias”, a encabeçar uma revolução que tinha por objectivo a reposição da legalidade do país.
O resto é sobejamente conhecido: os revoltosos partiram de Aveiro para o Porto onde se formou uma Junta Provisória que não chegou a governar porque o movimento revolucionário fracassou.
Não cabe no estrito espaço de uma crónica falar das causas deste fracasso que foram muitas, mas que se deveram sobretudo à superioridade numérica das tropas miguelistas que apressadamente subiram de Lisboa para sufocar a rebelião nortenha.
As forças liberais tiveram que abandonar o país. Os chefes, alguns, embarcaram num vapor inglês que estava no Douro, o “Belfast” e seguiram para Inglaterra. Por causa desse pormenor a revolução passou à história com a designação de “Belfastada”.
O grosso das tropas recuaram para a Galiza onde tiveram que arrotar com a aspereza das montanhas pedregosas, a chuva e o frio e, como se isso não bastasse, ainda eram enganados pela população local que lhes vendia a preços exorbitantes o alimento de que os refugiados tanto careciam.
Duas personalidades salientaram-se durante o êxodo, pela forma digna e humana com que acompanharam as tropas que se viram forçadas a entrar na Galiza: Joaquim José de Queirós e Bernardo de Sá Nogueira, mais tarde marquês de Sá da Bandeira. Dois homens extraordinários que nunca abandonaram os soldados na sua incursão na Galiza e, depois, no exílio em Inglaterra, nos célebres barracões de Plymouth.
Os que não conseguiram fugir ou não quiseram deixar a sua terra, acabaram por ser presos pelos esbirros miguelistas e alguns deles morreram em forcas levantadas no meio da Praça Nova.
Constava das sentenças que esses homens, cujo crime havia sido o de terem ideias próprias e amarem a liberdade, perderiam todos os direitos, honras e privilégios e que seriam levados pelas ruas da cidade “com baraços e pregão” e depois conduzidos à forca onde seriam enforcados e no fim de tudo isso ser-lhes-iam cortadas as cabeças para serem espetadas num troca a ser levantado no sítio onde fora praticado o delito.
O suplício deu-se a 7 de Maio e 9 de Outubro de 1829. Os condenados saíram do edifício da cadeia da Relação e seguiram a pé e descalços pela Calçada da Natividade (actual Rua dos Clérigos) até à Praça. Envergavam a alva dos condenados à morte, o capuz do suplício e ao redor da cinta a corda com que haviam de ser enforcados.
O cortejo era tétrico. Junto aos condenados iam as tumbas que iriam receber os seus restos mortais. Atrás os frades entoavam o “Miserere” da maneira mais funérea que se possa imaginar.
Duas forcas aguardavam os condenados que, quase desfalecidos, eram arrastados escada acima para o cadafalso onde os aguardava o carrasco.
O macabro espectáculo durou três longas horas. Das janelas dos conventos próximos (Lóios e Congregação de S. Filipe de Nery) os frades brindavam a cada execução com vinho do Porto enquanto davam vivas a D. Miguel e à santa religião…
A Reabilitação dos Mártires da PátriaSete anos depois da canibalesca cena dos enforcamentos na Praça Nova, a 7 de Maio de 1836, os cadáveres dos doze Mártires da Liberdade, que haviam sido enterrados no cerro dos enforcados que, por essa altura, se localizava, mais ou menos, onde agora funciona a Urgência do Hospital de Santo António, foram exumados para serem recolhidos num mausoléu que a Santa Casa da Misericórdia recolheu à entrada da sua igreja, na Rua das Flores.
Não foi difícil localizar as sepulturas dos doze Mártires da Liberdade. O coveiro, que os havia enterrado, Joaquim Manuel, ainda estava vivo e localizou facilmente os sítios onde estavam os corpos que, além do mais, não podiam confundir-se com outros porque os corpos que se procuravam não tinham cabeças…
O cortejo que se organizou para o transporte dos despojos até à Rua das Flores foi assim comentado por um jornal da época: “…lá vai o precioso depósito por entre as ruas cobertas de luto… e apinhadas de inumerável multidão que fitava, de olhos turbos de lágrimas, o frio mausoléu onde seriam depositados os restos mortais dos Mártires da Liberdade…”
Em 18 de Junho de 1878 os restos mortais dos Mártires da Pátria foram levados para um novo mausoléu que está no cemitério privativo da Santa Casa da Misericórdia no Prado do Repouso.
? - Tantos são os indivíduos que pagam com a sua própria morte a ousadia de desafiarem governos, ditaduras, prepotências e alguns sem razão aparente, mas porque o seu ideal, a sua política ou maneira de pensar e de ser não se coaduna com ideais e preconceitos considerados opostos.
Cabe-nos pois, procurar meios de conduta para se discutirem e harmonizarem diálogos que nos levem a um entendimento global de paz, evitando que possam repetir-se tragédias semelhantes que, moralmente em nada dignificam o verdadeiro homem.
Certamente que o ser humano vive de incertezas que provocam atitudes e preconceitos que em nada dignificam o “homem”. Neste contexto, saliente-se a exteriorização social no quotidiano e no espaço onde nos movemos, porque, nele sobressaem algumas disparidades nos conceitos étnicos, raciais e xenófobos sempre rodeados de incúria ou chalaça relacionada com a sexualidade.
Nas variadas profissões e até nos meios de comunicação social, existem preconceitos na diferenciação de classes e de sexos que quase sempre, lesam e vitimam mais a classe feminina, embora possamos assumir atitudes pessoais que contrastem tal ambiente dada a protecção auferida nos direitos e garantias da Constituição Portuguesa.
Muito naturalmente, as opiniões divergem e por tal razão admitimos ou fazemos a crítica. É também um dever de qualquer cidadão, contribuir para que sejam superadas as descriminações e abusos sistemáticos de qualquer género.
No texto que apresentei, suponho ter dado uma ideia sobre opinião pública e reflexão crítica, pois, a narrativa procura dar expressão estereotipada às questões que se abordam e notam com alguma naturalidade.
No entanto, vou procurar discernir um pouco melhor o que penso sobre este tema: Normalmente, a nossa vida no rodopio diário, vai gerando e criando opiniões diversas no contexto da sociedade e portanto, cria também variadas reflexões na própria cidadania. Não se pode viver sem que haja um quadro de opiniões e reflexões públicas, sejam elas críticas ou não sobre tudo quanto nos rodeia.
As opiniões diferem muito consoante o local onde vivemos, pois sabemos que os considerados intelectuais e cultos que vivem nos meios urbanos, têm uma visão diferente da dos outros indivíduos e acompanham com certa assiduidade os problemas do país, a política e toda a espécie de notícias internas e externas.
Deste modo e estando quase sempre dentro dos acontecimentos é, mais que concebível que as suas opiniões sejam mais aceitáveis. Todavia, as opiniões públicas nem sempre geram consenso entre as pessoas, razão pela qual nascem discussões mais acesas! Uma opinião não quer dizer uma certeza! É apenas uma ideia sobre qualquer conhecimento ou questão que se aflorou e debateu. Sendo assim, não podemos afiançar ou determinar que a nossa opinião seja a melhor em relação às opiniões dos outros.
É destas diferenças de ideias ou opiniões que surgem as reflexões críticas! Não se trata só de críticas, mas também na justa reflexão que o ser humano tem de preconizar às vezes contra si mesmo!
A reflexão chama-nos à atenção para pensarmos no que dizemos e ajuizar se o nosso procedimento está certo ou não. Assim, como definir crítica e preconceito? Uma coisa é a crítica justa. Outra é a crítica assente em preconceito que é injusta. É injusta porque: o preconceito retira a lucidez, a isenção e a imparcialidade para uma crítica justa; e retira a lucidez, a isenção e a imparcialidade porque o que subjaz ao preconceito é um sentimento de antipatia que não um conhecimento real e sério da pessoa objecto de preconceito.
Donde se conclui que a melhor forma de combater o preconceito é de modo próprio, ou seja por sua iniciativa e não através de outrem ou da influência de outrem conhecer a vida e obra da pessoa objecto de preconceito. Não seria um pouco disto que se verificou, por exemplo, aquando da visita de Bento XVI a Portugal e se verifica quando se criticam os outros?
Antes de criticar ou ao fazê-lo é aconselhável que olhemos para o nosso interior e reconheçamos os nossos erros e não apontar só e sempre as falhas dos outros.
Há na comunicação social, por exemplo, a porta aberta das notícias de toda a espécie, nacionais e internacionais e, ao ouvi-las, pomos a nossa opinião e a nossa reflexão a funcionar e logo perspectivamos ou auguramos os mais variáveis preconceitos à nossa maneira, antevendo um conjunto, por vezes de fracassos, outras, de factos para além da nossa retina oftalmológica.
Normalmente, o ser humano é exímio ou usa a conjectura da censura e do desterro de condenar sempre e sempre as outras pessoas. Pensemos nesta famosa expressão de L. Pascault: “Não julgues sem necessidade e não condenes sem provas”.
(Não julgues sem necessidade: eis a opinião – Não condenes sem provas: eis a reflexão).
A minha e a sua opinião! Qual de nós precisa de mudar? Aquele que muda, possivelmente entra em reflexão. Vejamos: “Uma das pessoas mais ricas do mundo suicidou-se, pouco tempo depois de fechar uma das suas muitas empresas, que não tinha dívidas nem ordenados em atraso. Estranhei, comentei o facto com um homem de 89 anos, e registei a resposta: Devia ser uma pessoa honesta e com vergonha de não poder cumprir algum compromisso assumido”. Este homem não mudou de opinião e se calhar não pensou em reflectir...
Assistimos também às críticas construtivas que são consideradas mais um género de incentivar para que se faça mais e melhor.
Geralmente, as pessoas vão com quem vai e vêm com quem vem! Não é isso que se pretende.
        
ATVerde


sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O Valor da Árvore...

No princípio do mundo a terra estava vazia e deserta. A vida era um caos, o Criador num acto de Amor, lembra-se:
Vamos embelezar e dar vida ao planeta Terra. Faz surgir árvores, arbustos e plantas de toda a espécie: árvores altas e baixas; árvores que dão fruto ou que só dão flor; árvores de folha perene e folha caduca.
Assim se forma a floresta e aí, as robustas e de grande porte tentam impedir que as mais frágeis possam crescer. Mas, algumas mais corajosas e teimosas, direitas ou tortas, a custo conseguem romper, espreguiçando os seus ramos pelas clareiras das maiores à procura do sol criador.
Algumas árvores presenteiam-nos com saborosos frutos, enquanto outras nos ferem com seus espinhos.

Estas rosas que te dou,
Tirei-lhe os espinhos
Para te mostrar quem sou
No valor dos meus carinhos…
Sem pétalas, quase nuas
Rosas, por vezes daninhas
Evitando picar as mãos tuas
Para não ferir as minhas…
Porque, na ansiedade de amar
Como abelha no pólen da flor
Por descuido, podemos picar
O nosso verdadeiro amor…

No Verão, a árvore abriga com sua a sombra e refresca aliada com a suave brisa, o casal de namorados, o trabalhador cansado, a mãe que amamenta o seu filho, os animais e aves, o caminhante e peregrino que, todos, procuraram o manto dos seus ramos para saciar ou suavizar as suas loucuras ou agonias quotidianas da vida…
No Inverno, a sua lenha ardendo na lareira, é calor que aquece o pobre e o rico. O oxigénio que produz, no mundo é vida e saúde.
Como se ainda não bastasse, a árvore amiga, ao homem com a sua madeira, torna-se num elemento substancial para a construção da sua casa. Na morte, dás-lhe ainda protecção, não experimentando logo o peso da terra agreste, fria, servindo-lhe de caixão.
Homem, uma das tuas missões é cuidar e guardar a floresta, gozar a sua beleza e usufruir de toda a sua riqueza.
Esqueces que foi para isso que Deus te chamou à existência? Que fazes tu, homem? Por cobiça ou ciúme destróis a floresta que te dá o oxigénio da vida. És mal agradecido, fazes mal a quem te faz bem.
Empregaste a própria árvore, tu, homem, fazendo dela uma cruz, para crucificar aquele que te gerou e deu à luz. Medita e entende, que na tua maldade, esse era o teu destino. Todavia, o amor de Deus é mais forte, assim, a Cruz de Cristo que era um instrumento de morte, transformou-se em árvore de vida.
Neste mundo, os homens são um pouco como as árvores: os mais fortes tentam impedir que os mais pequenos ou mais fracos cresçam e medrem, e assim, em lugar de possuirmos uma Lei de Amor, usamos a lei da selva.

ATV

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Valores Éticos e Culturais...

Com o título de Três Boas Almas, vou passar a desenvolver estes conceitos de valores éticos e também culturais, pois, pelo que li algures, eles vêm ao encontro do núcleo gerador que fomenta estas questões.
Deixem-me apenas referir que não acredito em almas de burros e, também não alinho em superstições, mas respeito as ideias, opiniões e crenças dos outros.
Fico com a boa impressão da grande alma deste bibliotecário ambulante, como se diz vulgarmente quando encontramos pessoas com relevantes préstimos acima da média: este possui uma alma de cântaro!
Vejamos a história que vou narrar: Dizem que a gralha é um animal demoníaco. Os espanhóis, quando alguém nega a existência de bruxas, abanam a cabeça e murmuram: “ Pero que las hay…”
Os judeus referem as maldades dos “dibukes”, homenzinhos que fazem coisas espantosas, tal como cegar, temporariamente, uma pessoa, que deixa de ver os chinelos ao fundo da cama.
Os árabes, para explicar o inexplicável, têm alminhas penadas (e malamdrecas): os “djinns”.
Eu continuo sem perceber, por exemplo: como foi possível estar a transcrever para os meus apontamentos um trecho do “Diário Incompleto”, de Agustina, que estava diante de mim, e chamar ao livro: “Diário Imperfeito”?! Seriam as bruxas?...
Certamente que qualquer leitor, conhecedor dessa obra, se tal nota fosse editada corrigiria o erro e ainda bem porque se trata de coisa excelente. Mas hoje, venho falar de um humilde professor do nordeste da Colômbia e dos seus dois burros, Alfa e Beto. Ora, junte as palavras e lerá Alfabeto.
É que o professor anda pela selva, de povo em povo, a distribuir livros. Muito suam ele e os jericos! Três boas almas! Há algum teólogo que reclame?
Esse homem nasceu numa região pobre, inculta e violenta. Estudou noutro lado, onde aprendeu o ofício de mestre-escola. Ao reformar-se voltou à origem – com a convicção que a cultura é a maior riqueza e uma arma formidável contra a injustiça e banditismo.
Foi-se ao curral e carregou de livros os dois burrinhos, em alforges, ao modo de almocreve samaritano, que empresta, não vende. Numa barraca junto à sua casa, guarda 4.000 volumes, a maior parte oferecida pelas instituições que souberam deste D. Quixote campesino.
Existem no mundo pessoas com ideias fenomenais que merecem dos seus concidadãos uma estima, um respeito e admiração pelo tanto que dão e fazem em benefício da cultura do seu país e do mundo.
Dar explicações ou aulas numa escola, universidade ou qualquer agremiação de ensino – embora não seja fácil dado o extremismo de alguns alunos – é muito natural que estes estabelecimentos possuam os ingredientes normais e precisos para se leccionar qualquer grau académico.
No entanto, o caso que se explanou e expandiu merece que a pessoa desse ilustre professor, rodeado de imensos sacrifícios, contingências adversas dos climas regionais colombianos, seja coroado de louros, proclamado herói da cultura e receba o grau de Doutor Honoris Causa! Mais: que seja proposto para prémio Nobel da Cultura.
Há no mundo grandes homens rodeados de coisas tão pequenas!

AT

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Mobilidades Locais e Globais

Este tema reúne um conjunto muito complexo de ideias e preconceitos a nível local e mundial, que nos obriga a um estudo pormenorizado e intensivo.
Entendemos como mobilidade neste caso, o transe sempre contínuo do ser humano na procura dos melhoramentos substanciais para a sua existência e do seu agregado familiar, quer interna quer externamente.
A deslocação interna à procura de empregos e de melhores condições de vida, leva à desertificação das áreas rurais dos indivíduos para as zonas urbanas ou seus arrabaldes na mira de conseguirem os seus objectivos. Por essa razão e também da emigração para o exterior do país, encontramos aldeias quase sem ninguém ou apenas com pessoas da terceira idade, olhando e esperando ansiosos que o Natal, Ano Novo ou outras festas tradicionais tragam de volta os seus familiares para uns dias de alegria e de matar saudades.
Usualmente damos-lhe o nome de: imigração ou emigração consoante se entra ou sai de um qualquer país, respectivamente.
Os fluxos migratórios ou se quisermos, os êxodos migrantes tem-se revelado e notado ao longo da história, quase sempre motivados pela esperança de poderem vir a usufruir de melhores regalias em todos os aspectos. Lembramos aqui a grande exploração aurífera nos Estados Unidos da América e toda a movimentação causada por aquele valoroso e ambicioso minério.
Contudo e olhando à distância, apercebemo-nos das grandes dificuldades que estes indivíduos encontram na caminhada, por vezes longa como aventureiros da cor-de-rosa.
Aqueles que partem às cegas, quase sem destino, sem saberem aquilo que de mau os espera para além da fronteira do país escolhido. Outros, já recomendados por amigos ou familiares, terão naturalmente outro sorrir à sua chegada. Ainda outros, que se atrevem a cometerem proezas aventurescas, navegando em canoas ou barcos de pequeno porte superlotados de famintos, inexperientes e sem nenhuma sanidade. (É o que vemos, ouvimos e observamos em notícias da TV e Rádio, concretamente, entre Marrocos e Espanha, Portugal e Itália, etc.).
E também o fraco e irresponsável acolhimento das autoridades, sem moral e sem contemplações prestado a estas criaturas, deixa muito a desejar na maior parte das vezes.
O ser humano parece que nunca está satisfeito, vive de ansiedades e sonhos, procurando quase incessantemente a luz que o leva a descobrir outras paragens. Sujeita-se muitas vezes a sofrer as ingratidões que a vida lhe reserva. Quando na aventura tudo lhe corre de feição, regressa de vez ou vindo de férias, nota-se no seu semblante uma euforia que traduz a realidade dos seus êxitos de além fronteiras.
Escolhe um sítio, geralmente a sua terra natal, projecta e idealiza a obra da sua casa, constrói, ajardina, dá-lhe retoques suíços, franceses, alemãs, brasileiros, americanos ou consoante o país onde colheu os frutos da sua aventura, as suas poupanças para um futuro melhor, seu e de seus filhos.
Neste panorama migratório, ele contribui também para o enriquecimento do seu país de origem, trazendo dólares, francos, euros, rands ou outras moedas que vêm aumentar substancialmente o património nacional.
Desde tempos muito remotos, o homem tentou descobrir para lá da cortina das pálpebras dos seus olhos, outro mundo, outra aventura, outros conhecimentos, outras paragens, outras riquezas, outras raças, outras línguas e outras civilizações e, Portugal foi pioneiro nesses amargos caminhos de sonhos e de esperança!

AT

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Democracia Representativa e Participativa

Neste texto, é minha intenção tentar assimilar ideias em relação aos títulos em questão.
A caridade que ama e serve a pessoa humana nunca poderá estar dissociada da justiça: uma e outra, cada qual à sua maneira, exigem o pleno reconhecimento efectivo dos direitos da pessoa, a que é ordenada a sociedade em todas as suas estruturas e instituições.
Para se animar a ordem temporal, no sentido que se disse de servir a pessoa e a sociedade, os homens não podem absolutamente abdicar da participação na política, ou seja, da múltipla e variada acção económica, social, legislativa, administrativa e cultural, destinada a promover orgânica e institucionalmente o bem comum.
Como repetidamente ouvimos afirmar aos mais intelectuais e conhecedores, todos e cada um têm o direito e o dever de participar na política, embora em diversidade e complementaridade de sistemas, formas, níveis, funções e responsabilidades.
As acusações de arrivismo, contestação, idolatria do poder, egoísmo e corrupção que muitas vezes são dirigidas aos homens do governo, do parlamento, da classe dominante ou partido político, bem como a opinião muito difusa e por vezes confusa de que a política é um lugar de “perigo moral”, não justificam minimamente nem o cepticismo nem tão pouco o absentismo de algumas pessoas pela causa pública.
Pelo contrário, são muito significativas as palavras daqueles que estudaram teses sobre teses de políticas governativas, que louvam e apreciam o trabalho de quantos se dedicam ao bem da nação e tomam sobre os seus ombros o peso de tal cargo, ao serviço da comunidade nacional.
Uma política em favor da pessoa e da sociedade tem o seu critério de base na busca do bem comum, como bem de todos os homens e do homem todo, oferecido e garantido para ser livre, responsável e aceite pelas pessoas, tanto individualmente como em grupo: “A comunidade política existe precisamente em vista do bem comum; nele encontra a sua completa justificação e significado e dele deriva o seu direito natural e próprio. Quanto ao bem comum, ele compreende o conjunto das condições de vida social que permitem aos indivíduos, famílias e associações alcançar plena e facilmente uma sociedade mais próxima da perfeição”.
Além disso, uma política em favor da pessoa e da sociedade encontra a sua linha constante de acção “na defesa e na promoção da justiça”, entendida como “virtude” para a qual todos devem ser educados e como “força moral” que apoia o empenho em favorecer os direitos e os deveres de todos e de cada um, na base da dignidade pessoal do ser humano.
No exercício do poder político é fundamental o “espírito de serviço”, único capaz de, ao lado da necessária competência e eficiência, tornar “transparente ou limpa” a actividade dos homens políticos, como aliás, o povo justamente exige.
Isto pressupõe a luta aberta e a decidida superação de certas tentações, tais como: o recurso à deslealdade e à mentira, o desperdício do dinheiro público em vantagem de uns e com miras de clientela, o uso de meios equívocos ou ilícitos para, a todo o custo, conquistar, conservar e aumentar o poder.
Os verdadeiros homens empenhados na política, devem certamente respeitar a autonomia das realidades, rectamente e dignamente entendidas.
É de grande importância, sobretudo onde existe uma sociedade pluralista, que se tenha uma concepção exacta das relações entre as diversas comunidades políticas e religiosas e ainda que se distingam claramente as actividades, isoladamente ou em grupos que desempenham os cidadãos, guiados pela sua consciência em que eles próprios gostam de manter a sua própria autonomia.
A transcendência da pessoa humana deve ser salvaguardada, mesmo que associações ou grupos em razão da sua competência, de modo algum se possam confundir com a sociedade que não está ligada a qualquer sistema político determinado.
Simultaneamente, e hoje sentindo-o com urgência e responsabilidade, os homens devem dar testemunhos daqueles valores humanos a que estão intimamente ligados à própria actividade política, como a liberdade e a justiça, a solidariedade, a dedicação fiel e desinteressada ao bem de todos, o estilo simples de vida e sempre preferencial pelos pobres e pelos últimos…
Isso exige que os homens sejam cada vez mais animados de uma real participação na vida activa, para poder dar apoio e ajuda à familiaridade em consonância com o poder governativo.
Criar um estilo que tenha em vista o verdadeiro progresso humano e a solidariedade, com a respectiva participação activa e responsável na política nacional, desde os cidadãos individualmente aos vários grupos, sindicatos e partidos.
Que a solidariedade não se transforme num sentimento de vaga compaixão e de enternecimento superficial pelos males sofridos por tantas pessoas, próximas ou distantes. Pelo contrário, “é a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem de todos e de cada um, porque todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos”.
Hoje, a solidariedade política deveria actuar num horizonte que, superando uma simples nação ou um bloco de nações, assumisse uma dimensão mais propriamente continental e mundial.
O fruto da actividade solidária, a que todos tanto aspiram, e, todavia sempre tão imperfeito, é a paz. Assim, os homens não podem ficar indiferentes, estranhos e indolentes diante de tudo o que negue ou comprometa a paz: violência e guerra, tortura e terrorismo, campos de concentração, militarização da política, corrida aos armamentos, ameaça nuclear. Antes, devem os homens assumir o dever de serem construtores da paz, tanto com o coração, como com a acção em favor da verdade, da caridade, da liberdade e da justiça que são os fundamentos irrenunciáveis da paz.
Colaborando com todos aqueles que procuram a verdadeira paz, servindo-se dos específicos organismos e instituições nacionais e internacionais, os homens deverão promover uma capilar acção educativa destinada a neutralizar a dominante cultura do egoísmo, do ódio, da vingança e da inimizade e a desenvolver a cultura da solidariedade a todos os níveis.
Naturalmente, a solidariedade é o caminho para a paz e simultaneamente para o progresso mas, cabe-nos sem excepção a recusa de formas inaceitáveis de violência, promover comportamentos de diálogo e de paz e empenharmo-nos na instauração de uma ordem social e internacional justa.
Como direitos e deveres fundamentais prescritos na Constituição da República Portuguesa, são muitos os artigos dessa referência. Apenas irei referir-me a alguns considerados mais notórios dado o extenso rol dos mesmos:
Começaria por dizer que o (Artº. 63º - Segurança Social e Solidariedade), foi um dos que me chamou mais a atenção porque diz assim: - Todos têm direito à Segurança Social e incumbe ao Estado organizar, coordenar e subsidiar um sistema de Segurança Social unificado e descentralizado com a participação das Associações Sindicais, de outras Organizações representativas dos trabalhadores e de Associações representativas dos demais beneficiários.
Artº 64º – Saúde                               
Todos têm direito à protecção da saúde e o dever de a defender e promover.
Artº 65º – Direito a habitação condigna
Artº 66º – Ambiente e qualidade de vida humana, sadia e ecologicamente equilibrada e o dever de o defender.
Artº 67º – Família
A família, como elemento fundamental da sociedade, tem direito à protecção da sociedade e do Estado e à efectivação de todas as condições que permitam a realização pessoal dos seus membros.
Direitos e deveres culturais:
Artº 73º – Educação, Cultura e Ciência – Cultura Física e de Desporto
Promover a igualdade de oportunidades a todos os cidadãos.
Artº 74º – Ensino
Todos têm direito ao ensino com garantia de acesso e êxito escolar, podendo aderir ao ensino público, particular e cooperativo em todos os níveis ou graus académicos.
Artº 87º – Actividades económicas
Artº 88º – Meios de produção
Artº 89º – Participação dos trabalhadores nos meios de gestão económica, Social, Comercial, Agrícola, Industrial, Financeira e Fiscal.
O poder político está organizado em:
- Titularidade e exercício do poder
- Participação política dos cidadãos
- Órgãos de soberania, fazendo parte destes:
Presidente da República, Assembleia da República, Governo e Tribunais.
Existem ainda muitos outros organismos como:
- Procuradoria Geral da República
- Ministros da República para as Regiões Autónomas dos Açores e Madeira
- Autarquias Locais e Divisões Administrativas
- Órgãos Deliberativos e Executivos
- Defesa Nacional
- Forças Armadas e de Segurança
- Tribunal de Contas
- Tribunal Militar
- Tribunal Constitucional
- Tribunal Administrativo e Fiscal

A Constituição da República Portuguesa tem a data da sua aprovação pela Assembleia Constituinte de 2 de Abril de 1976.

A Constituição da República Portuguesa entrou em vigor no dia 25 de Abril de 1976.

AT


terça-feira, 13 de setembro de 2011

Autobiografia...

Exemplo para desenvolver a sua Autobiografia:
de
Nome…
Data…

Decorria o ano de 1938, quando um casal de noivos resolveu dar o nó. Esta forma de expressão é muito usada quando se fala em casamento. O casal referido, com os nomes de, -----------------------------------, são os pais do Auto Biografado, -----------------------.
Deste matrimónio, nasceram oito rebentos, sendo seis do sexo masculino e dois do sexo feminino. Por ordem de chegada, eu fui o segundo, que viu a luz do dia (se é que vi) pelas 11 horas do dia de 21 de Agosto de 1941.
Nasci no lugar de ----, freguesia de ----- do concelho de ------. Por volta dos nove anos de idade, fui viver para uma quinta rural, com a minha família, onde permaneci até à incorporação no serviço militar.
Tratava-se de uma família pobre, de poucos recursos materiais e monetários, como era óbvio e quase geral naquele tempo para muitas famílias, com problemas acrescidos porque, estávamos em plena Segunda Guerra Mundial (1939/1945).
Vivíamos na citada quinta rural, muito grande, como caseiros rendeiros, usufruindo apenas das sobras dos cereais, frutos e vinhos, depois de concluído o pagamento da renda, estipulado em medidas de capacidade.
Também, podíamos dispor de galináceos, coelhos, suínos e bovinos, cuja criação e recriação era feita na própria quinta, embora, na maior parte das vezes, se procedesse à sua venda para solucionar problemas de várias índoles. Para dar uma ideia das dificuldades, das forçosas e rigorosas economias, sirvo-me de um ditado chinês para melhor elucidar essa rigorosidade: Quando o pobre come galinha, é sinal de doença nele ou nela!
Assim, fui crescendo nessa Quinta d--------, em --------,------. Como todos os miúdos ou crianças do meu tempo, tínhamos as nossas brincadeiras, dispondo de alguns brinquedos artesanais toscos, mas, não sonhávamos sequer com os brinquedos caríssimos e extravagantes dos garotos nossos homónimos de hoje!
A vida no campo é muito diferente da dos meios urbanos: mais saudável porque há mais arvoredo e menos poluição. A alimentação, também será melhor se não ficar à míngua das doses adequadas, sabendo que, temos o benefício das hortaliças e a diversidade de víveres, poderem ser colhidos ou apanhados com pouca antecedência da confecção das refeições, conservando assim as suas vitaminas mais em actividade.
As colheitas de diversos cereais, as vindimas, o manuseamento e preparação do linho e os serões da aldeia, tornavam-se em autênticas festas, onde se dançava e cantava e, nós sentíamos uma alegria imensa quando tomávamos parte nesses trabalhos agrícolas. Não havia outras distracções, sendo portanto, os momentos ideais para expandir a nossa satisfação, mesmo quando éramos ainda pequerruchos.
Apraz-me referenciar também, que nesses anos de vivência rural, não tínhamos luz eléctrica nem água canalizada e, nem pensar sequer em casas de banho! A luz era fornecida por candeias a petróleo ou outros apetrechos enquanto que a água era trazida em vasilhas a partir de fontanários públicos.
Para as necessidades fisiológicas, preparavam-se latrinas e outros meios pouco recomendáveis para uma boa sanidade, advindo dessas ínfimas técnicas ancestrais, a poluição e as doenças infecto-contagiosas.
Veio a idade da escola e, lá fui eu como os outros catraios. Tive sorte, pois a escola ficava perto de casa. Era um rapaz inteligente, segundo as professoras de então, mas pouco aplicado, fazendo distrair os meus colegas.
“Deixo aqui expresso, a minha profunda admiração, assim como o meu sincero reconhecimento, às Digníssimas Professoras pelos ensinamentos recebidos que, foram e continuam a ser o caminho aberto para novos rumos da minha civilização.”
O tempo avançou. Chamada à escola a minha boa mãe, foi-lhe dito que eu aprendia muito bem mas era preciso aplicar-me mais. Depois de algumas repreensões e tabefes, melhorei um pouco mas continuei malandro. O que é certo, é que no exame da 4ª classe, (na altura eram feitos na sede concelhia) deixei para trás os meus colegas mais aplicados, sendo aprovado com distinção, provocando neles e na professora algumas lágrimas de tristeza, porque eles apenas ficaram aprovados. Sei que, se calhar, esperavam e mereciam mais a distinção do que eu…
Continuei a vivência com os meus pais na quinta, porque, não havendo possibilidades económicas para que fosse estudar, também era necessário ajudar nos diversos trabalhos do campo, apesar da minha tenra idade.
Os meus pais, tiveram sempre o máximo cuidado, dando-nos tarefas mais leves e que fôssemos capazes de as executar sem excesso de esforço. Bons pais que eu tive!
Em 15 de Junho de 1961, apresentei-me na sede do Concelho de -------- para ser inspeccionado. Fiquei apurado para todo o serviço militar.
Naquela altura, ninguém se livrava disso, porque tinham surgido as primeiras insurreições em Angola, o ataque de pirataria ao Paquete Santa Maria, e mais tarde os problemas surgidos na Índia Portuguesa, além de outros, faziam antever uma futura conjectura política de problemas que se pensa sempre, em primeiro lugar, que sejam os militares a resolver.
Confesso que, pensava mudar de vida e arranjar um emprego, o que não era fácil. Talvez o serviço militar, fosse uma porta aberta para conseguir esse objectivo. Ofereci-me voluntário para a Marinha de Guerra, tendo acertado em cheio na escolha!
Não queria de forma alguma menosprezar os militares de outras armas mas, toda a gente sabe que, a Marinha de Guerra sempre primou, em todos os aspectos, estar na vanguarda e, não é que em formaturas e desfiles nacionais e estrangeiros, a Marinha de Guerra Portuguesa ocupa sempre o primeiro lugar!? Mas, não só por isso. A Marinha zela pelos interesses dos seus marinheiros, dando-lhes condições de higiene, alimentação, desporto, cultura e ensinamentos militares e não só, pondo à disposição dos mesmos o acesso a estudos de variados graus de ensino, dificultados, às vezes, pelas tarefas navais que, natural e esquematicamente têm de ser feitas no quotidiano da marinhagem.
Em 14 de Março de 1962, fui incorporado na Armada como Fuzileiro, tropa de elite, criada propositadamente, para enfrentar e combater em Angola, Moçambique e Guiné, nos cenários de guerra de guerrilha e contra guerrilha ao que, vulgarmente, apelidamos de terrorismo, podendo este, actuar de diversas formas e também, planeando atingir certos objectivos.
O serviço militar, foi para mim um bom emprego que durou sete anos e meio. Fiz uma comissão de serviço (1962/1965) em Moçambique, de trinta meses, num país magnífico, banhado pelo Oceano Índico do qual guardo imensas recordações e saudades. Não fosse por ali o Cabo da Boa Esperança?!...
Estive também na Guiné durante vinte e dois meses, (1966/1968) num clima deveras incipiente e mau. Guardo destes países inúmeras memórias, nem todas boas, porque a guerra deixa sempre marcas no corpo e no espírito, cujas cicatrizes tarde ou nunca ficarão curadas.
Felizmente, a sorte esteve quase sempre do meu lado mas, não o suficiente para esquecer no meu íntimo, as amarguras de ver colegas feridos e mortos o que ainda hoje me dói e doerá eternamente... porque na Marinha, somos uma família muitíssimo unida, talvez, pelas circunstâncias de navegarmos, dias, semanas e meses dentro do mesmo casco do navio, onde nos conhecemos e sabemos tudo de todos, nos ajudamos reciprocamente, mesmo em casos de estrema perigosidade.
Deixei a Marinha em 19 de Junho de 1969 bastante contrariado, porque eu tinha dois amores: Além de toda a minha santa família, eu gostava sinceramente da Marinha mas também da minha noiva, ----------, a quem ardente e apaixonadamente dediquei e fiz, nas horas de ociosidade algumas quadras de amor.
Não era da vontade dela que eu continuasse na Marinha, tendo em conta o perigo constante de, destacados para o ultramar e na condição de fuzileiros operacionais, viéssemos a sofrer algum dissabor que, contrastasse com a felicidade que augurávamos com o nosso casamento, realizado em 13 de Abril de 19--. A tudo isto se juntava também, aquela conhecida e famosa tradição ou paranóia de que, em cada porto os marinheiros têm uma namorada! O ciúme não dorme…
Assim, pus fim a uma carreira militar de sonhos e anseios, onde ganhei muitos amigos, granjeei simpatias, adquiri conhecimentos e conheci alguns locais do mundo que, se não fosse a Marinha, naturalmente, seria matematicamente inimaginável.
Lembro-me dos muitos locais onde estive ou passei: Angola, Moçambique, Guiné, África do Sul, Namíbia, Rodésia (Zimbabué), Serra Leoa, Senegal, Ilhas Canárias, Cabo Verde, Açores, Madeira, etc., etc.
Ainda hoje, acompanho com frequência tudo o que diga respeito à Marinha e não perco as oportunidades de visitar os Vasos de Guerra nacionais e estrangeiros, de participar em efemérides, convívios ou eventos relacionados com a Armada.
Depois desta narração epopeica, surge de novo a vida civil e simultaneamente as responsabilidades de um matrimónio ainda com sabor a lua-de-mel.
O pior, acima de tudo, foi a readaptação a nova vida e novo trabalho. Promessas de emprego não faltavam, mas a concretização não se consumava. Tanto assim que, acabei por aceitar, embora não gostasse muito, o lugar de motorista de pesados numa empresa de empreiteiros, bem pertinho de casa.
Embora acumulasse simpatias e ajudas de colegas de profissão e até ganhasse um salário razoável, tenho de admitir que tive dificuldades em arrepiar caminho. A vida na Marinha era outra coisa…e sete anos e meio não são dois dias!
Claro que eu não aceitava de certa forma, maneiras um tanto ou quanto impróprias de mandar e de trabalhar e, por essa razão, o ambiente na empresa começou a poluir-se na minha direcção. Durou um ano e pouco, provocando algum pranto na minha esposa que, começou a desconfiar da minha postura em relação ao trabalho.

Com a saída, um pouco atribulada da empresa, começaram as interrogações do que seria o futuro, dado que, já tínhamos uma filha o que, naturalmente, nos obrigava a maior dispêndio familiar.
Entretanto, pensamos em construir uma casa. Fizemos os nossos balanços económicos, estudamos as hipóteses de pagamento de juros e decidimos deitar mãos à obra.
Projectamos como devia ser a casa, elaboramos desenhos e recriando plantas, cálculos orçamentais, solicitando pareceres e apoios, concluímos: vamos começar!
Não será necessário enumerar a quantidade de sacrifícios a que nos sujeitamos, porque sabemos que, como nós, houve e haverá outros que têm as mesmas aspirações e portanto, ficam entregues também às contingências da vida.
Seguidamente, arranjei trabalho de motorista numa empresa de passageiros e comecei a gostar do serviço que era mais limpo: fatinho e gravata.
Porém, nem tudo são rosas e alguns chefes de serviço, ao que me foi dado avaliar, sem capacidades para o cargo, vendem-se por uns copos e castigam uns mais que outros no trabalho. A minha consciência e maneira de ser, não admite deslizes desumanos do género, entrei em desacordo e claro, não anui a tais prepotências, originando que viesse embora ao fim de ano e meio.
 Dizia eu que, se fosse preciso manobrar um machado, picareta ou outro utensílio de trabalho, manobrá-lo-ia para mitigar a fome do meu agregado familiar, honestamente.
Neste espaço de tempo, nasce outra filha e, obviamente as coisas complicam-se a nível de despesas.
Depois disso, lancei-me para a estrada da vida, como motorista de longo curso durante cinco anos, vindo a conhecer melhor os cantinhos de Portugal e alguns países europeus: Espanha, França, Alemanha e Luxemburgo.
Entretanto, surge o terceiro filho que nos impõe um minucioso estudo sobre as despesas do agregado familiar: cortar num lado para dar para o outro.
A perseverança, aliada a outros factores como o ânimo, a vontade e o querer, são extremamente fundamentais nestas alturas, não consideradas cruciais, mas que exigem um raciocínio profundo, pormenorizado e concentrado.
Finalmente, voltei ao serviço público de passageiros, como motorista durante vinte e quatro anos, mas noutra empresa. Aí, mais maduro, comecei a ser mais paciente, tentando levar a minha cruz com mais cautela, evitando tropeçar e deixando para trás o ímpeto da mocidade, corrigindo defeitos que, de certo modo, nos podem prejudicar, pensando e sabendo que o peso dos anos se torna num bálsamo próprio para a serenidade e a acalmia.
Nestes vinte e quatro anos, proporcionado pelo meu trabalho de motorista de turismo, conheci e lidei com muitíssimas pessoas; descobri ainda melhor o nosso Portugal através de roteiros turísticos; saboreei a gastronomia deste Oásis Portucale da Península Ibérica; fui romeiro, admirei trajes e ouvi sotaques variados de norte a sul; assisti a dançares folclóricos da verdadeira e original cultura portuguesa, deixando soar nos tímpanos dos meus ouvidos o Vira, o Malhão, a Cana Verde, a Rusga, o Fandango, as Serenatas, os Fados e tantos cantares e tantas músicas lusas, que fazem do nosso País uma autêntica catedral de sinfonia, de conhecimentos e de cardápios de nível muito elevado e de relevo mundial.
O último filho aparece quase extemporaneamente, pois, nasce com um interregno de oito anos em relação ao penúltimo. Com a situação económica razoável e menos embaraçosa, este filho veio junto com o carro, que tínhamos adquirido havia pouco tempo, depois de termos feito novo balanço das nossas economias e despesas.
O tempo passa e num ápice, sentimo-nos velhos pelo acumular do peso dos anos e das vicissitudes que a vida nos impõe ou então, pelas quais, distraidamente nos deixamos enrolar! Contudo, ficam as réstias de esperança na jovialidade que, desejamos manter pelas forças do querer e da nossa férrea vontade!
Reformei-me antecipadamente, aos 63 anos de idade pela Segurança Social, juntando também a Aposentação da Marinha de Guerra Portuguesa.
Como tenho mais tempo disponível e sou apaixonado pela ciência e o saber nunca é demais, dediquei-me a estudar, lamentando apenas alguma falta de apoio e também o desgaste da minha inteligência pela idade.
Contudo, sou persistente e devagar, devagarinho, vou caminhando, vendo com satisfação que os resultados aparecem. Fiz o 9º Ano, aprendi a trabalhar com computadores quase sem ajuda e hoje, consigo fazer algo em diversos programas, nomeadamente no Publisher, pois escrevo, edito e publico um pequeno boletim interno no Movimento dos Cursilhos de Cristandade a que pertenço.
Apesar de reformado/aposentado, tenho muitas tarefas para executar: apoio aos meus netos na ida e regresso das aulas, nos seus deveres escolares, etc; sou Ministro Extraordinário da Comunhão, Leitor e Acólito; faço parte da Comissão de Obras da Igreja; sócio dos Bombeiros; sócio da Associação dos Veteranos de Guerra; sócio da Associação Nacional de Fuzileiros, etc.
Entre os anos de 2006 e 2007, frequentei com aproveitamento um curso de contabilidade, satisfazendo assim um anseio com dezenas de anos, pois, pensava e queria descobrir os segredos da contabilidade, agora, melhor ainda com a ajuda do Excel. Fiz também um Curso Básico de Inglês.
O forte desejo de aprender, fez relançar a ideia de me candidatar a Novas Oportunidades para fazer o 12º Ano, porque, antes disso e como este processo estava demasiado lento, cheguei a pensar na candidatura à Universidade através do exame Ad Hoc. Prefiro, no entanto, concluir primeiro o 12º Ano, subindo assim, degrau a degrau, para que, estando no cimo da escada e surgindo algum contra tempo, o trambolhão possa vir a ser mais suave e de menos impacto…
Nome--------